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Os trabalhos apresentados nesta mostra são frutos de uma pesquisa que  buscou encontrar, reunir e colocar em discussão momentos da produção  gráfica de um artista, que, até então, estava guardada em acervos,  coleções e livros de artes visuais e de literatura. Com o intuito de tornar  estes trabalhos públicos e de entender um pouco mais sobre a vida e a obra  do artista catarinense Hugo Mund Júnior desenvolvemos esta exposição. 

Hugo (1933) publica sua primeira ilustração no jornal O Estado de  Florianópolis em outubro de 1949 e, também, uma peça de teatro na  Revista Sul nº 10. Esses trabalhos o colocam desde o início em edições  impressas e abrem caminho para uma vasta produção que se desenvolve  ao longo de seus aproximadamente 50 anos de carreira como artista  gráfico, poeta, editor, desenhista, gravador, pintor e professor. Ele se  aposentou nos anos 1990 e deixou grande parte de sua obra a museus e  universidades públicas em Santa Catarina, Distrito Federal e Rio de Janeiro. 

Atualmente o artista vive em Brasília e é considerado por colecionadores,  artistas, pesquisadores e conterrâneos como um intelectual importante,  por seu trabalho e sua atuação. Ele colaborou com o Círculo de Arte Moderna  de Florianópolis (Grupo Sul), foi fundador do Grupo de Artistas Plásticos de  Florianópolis (GAPF), fez estágio com Oswaldo Goeldi na Escola Nacional  de Belas Artes (ENBA), lecionou desenho no Instituto Central de Artes (ICA UNB), fundou a editora Edições do Livro de Arte (EDLA), colaborou com a  Fundação Cultural de Brasília (FCB) e o Ministério da Cultura e Educação  (MEC), atuou junto ao grupo Poema Processo, reestruturou as Oficinas de  Arte da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), publicou 14 livros e ocupa  a cadeira 6 da Academia Catarinense de Letras (ACL).

Encontramos uma trajetória respeitável de pesquisa constante  e experimentação de múltiplos processos de impressão ao longo  de toda a metade do século 20. Respeitável por transitar em locais  de efervescência artística em determinados períodos; de pesquisa  por agregar saberes ao seu repertório em cada ambiente que passou.  

Assim, construímos aqui no Museu de Arte de Santa Catarina uma  exposição que leva em consideração tanto a importância dessa trajetória  artística quanto procura questionar quais campos poéticos Hugo Mund  habita ao produzir seu trabalho. Com base nessa pergunta, organizamos  três momentos do trabalho do artista que convergem entre si, chamados  aqui de eixos de produção gráfica, e são eles: ilustração, poesia visual e  edição. Cada um dos três eixos traz obras de diversos períodos de atuação  do artista e estão vinculados a linhas de pensamento que expõem uma  partícula do gesto de criação aparente na obra gráfica de Mund. 

Quando se lê gráfica, você poderá encontrar desenhos em nanquim seco,  desenhos em nanquim aguado, xilogravuras, serigrafias, livros impressos  à mão em tipografia, publicações impressas em gráficas, envelopes,  folhetos, tiras, sanfonas e outros registros em jornais, revistas e convites  de exposições. Essa versátil combinação de objetos, em sua maioria sobre  papel, e as suas mais de 70 obras, em versões originais e réplicas para  manuseio, colocam Hugo Mund Júnior como um artista catarinense pioneiro  das artes visuais no Brasil do século 20 que deixa um considerável legado  para artistas, escritores, designers e educadores e ainda nos faz perguntas  nos dias atuais.

Neste primeiro eixo da produção gráfica de Hugo Mund, é possível perceber  seu trabalho na busca por uma identidade cultural local, com figuras em  diálogo com correntes do simbolismo e do expressionismo, em que seus  personagens e cenários são símbolos de algo a ser intimamente decifrado.  Os trabalhos organizados aqui são geralmente feitos em séries, trazem  traços hachurados, nervosos e fluidos, que se complexificam ao longo da  trajetória do artista. É notável que o processo de seriação, de impressão  e de multiplicação surgem da experimentação do desenho e da gravura. 

Com inegável influência do professor Oswaldo Goeldi, as figuras sombrias  de Hugo Mund são criadas a partir dos processos da observação, da  literatura e da memória. Elas dialogam com temas de James Ensor, Edgar  Allan Poe e Cruz e Sousa, e as representações gráficas se aproximam de  artistas atuantes nos grupos modernistas em Santa Catarina. Mund, todavia,  busca um gesto próprio para retratar cenas fantásticas e do cotidiano,  desenvolvendo um traçado preciso e límpido, com simplicidade material  tal que, por vezes, seus trabalhos parecem ser esboços para outros.  Desenhos em nanquim seco e aguadas, carvão e xilogravuras que parecem  narrar cenas do dia a dia, seres mitológicos e passantes anônimos fazem  parte das ilustrações de Hugo. João Evangelista e Luciene Lehmkuhl  conferiram ao artista uma estética sóbria, certeira e de suspense.

Se,  pela ótica de Priscila Rufinoni, Goeldi seria um retratista de anônimos do  cotidiano, que explora rejeitados de uma sociedade em um cenário noturno,  dando forma às pessoas que habitam o subúrbio, podemos perceber que  Mund trata também dessas questões, mas com uma textura da Ilha de Santa  Catarina, o que fica evidente em suas xilogravuras e desenhos em nanquim. 
As ilustrações da primeira sala são originais ou estão impressas em  jornais, revistas e livros, como a Revista Sul (1947-1958), nos quais Mund  é revelado como artista. São trabalhos que coincidem com o momento  em que Mund conquista experiência em ateliê, participa de exposições  internacionais como gravador e forma-se professor de História da Arte.  Conforme seu relato em entrevista à Joca Wolff, Mund desenha até 1964,  mas, depois, dedica-se a um novo caminho.

Com a bagagem de ilustrador e editor gráfico, Hugo Mund é convidado por  Alcides da Rocha Miranda a lecionar na Universidade do Brasil em 1962.  Na UNB, Mund desenvolveu um programa de ensino de desenho que  procurava promover uma linguagem gráfica universal e suas pesquisas  foram associadas à arte concretista, à poesia-processo e à poesia visual,  esta que posteriormente ele nomeou como poesia verbal. Nos dias de hoje,  seus trabalhos poderiam estar em eventos de publicações de artistas,  categoria em ascensão nas artes visuais desde a década de 1960. 

Neste eixo, é possível notar que o trabalho do artista difere do simbólico  presente no agrupamento das ilustrações e se dedica principalmente  a uma nova comunicabilidade. Seus trabalhos presentes aqui voltam-se para estudos da linguagem como apreensão de estruturas básicas, tais  quais a forma, a palavra, o traço e a cor, de modo a provocar em seu  público um novo tipo de participação na relação texto/imagem e leitor.  Trata-se de uma produção em que Mund passou a simplificar as figuras  e fazer instruções, usar formas geométricas, fotos, recortes, colagens  e manuscritos; mobilizar signos mínimos na busca de um entendimento  universal, acessível, simples em materiais, mas complexos na capacidade  de criar elos com quem lê.  

As publicações são feitas em formato de livro e desafiam a ideia de uma  leitura linear. O artista publica Gráficos (1968) seguido de Palavras que não  são palavras (1969) que são estudos sobre a sensorialidade e a percepção  e buscam integrar desenho e palavra. Germens (1977) e Palavra e cor (1988) são projetos gráficos autônomos, reunidos em sequências e alguns  deles fizeram parte de circuitos de arte-correio. 

O gesto artístico de Hugo ao compor objetos gráficos é preciso, objetivo,  sensível e sensorial e combina sistemas de signos que vivem no papel  pela edição de imagens e palavras. Além disso, levanta questões sobre  informação, comunicação, semiótica e temas referentes à informatização  em plena década de 1970.

Neste eixo, encontramos um artista que se dedica à edição de trabalhos  em livro, jornal e revista. Mund envolveu-se com questões de concepção,  diagramação, programação visual, impressão, encadernação, lançamentos  e distribuição de publicações. São dois os principais acontecimentos  deste eixo: a criação do Jornal Oasis (1949-1951) e a fundação da editora  Edições do Livro de Arte (1958-1962), ambos em conjunto com o escritor  Silveira de Souza.  

Oasis é um jornal de periodicidade irregular impresso em tipografia na  Imprensa Oficial do Estado de Santa Catarina, conforme nos contou Silveira  de Souza. Foram 6 exemplares com textos de literatura, dramaturgia,  fragmentos de poemas e ilustrações de autores locais e outros artistas  convidados. Esta publicação circulou em Florianópolis (SC) e aconteceu  paralelamente às Revistas Sul (1948-1957), possivelmente inspirada por  elas. Mund trabalha como autor e editor neste projeto. 

Edições do Livro de Arte é uma das primeiras editoras de livros de artista  em Santa Catarina, idealizada por Hugo Mund Jr., conforme nos conta  Silveira de Souza. Foram produzidos três livros: Sonetos da noite, de Cruz  e Sousa (1958), O Vigia e a Cidade, de Silveira de Souza (1960) e País de  Rosamor, de Maura de Senna Pereira (1962), feitos em formato de álbum  de gravura com poemas e ilustrações em xilogravura. As folhas não são  costuradas, a tipografia é tradicional e os exemplares, entre 240 e 300, são  assinados pelos autores e numerados pelo impressor. Mund é responsável  por criar as gravuras e logo, editar e imprimir as publicações da editora. 

Além disso, há poucos registros de revistas em que Mund também  desenvolveu o projeto gráfico, como é o caso de Cultura e Educação,  publicadas pela Diretoria de Documentação e Divulgação do MEC e  publicações do Mensário Cultural Roteiro. O importante neste eixo é  perceber um artista que fabrica livros, em todas as suas etapas, como  autor, como ilustrador e também como editor.

Sebastião G. Branco
curador

HUGO MUND JR. OBRA GRÁFICA

 

De 12 de julho a 18 de setembro
Local: Sala 1 do Museu de Arte de Santa Catarina
Centro Integrado de Cultura (CIC), Av. Gov. Irineu Bornhausen, 5600, Agronômica, Florianópolis.
Visitação: terça a domingo, das 10 às 21 horas.

Entrada gratuita. Classificação livre.

curadoria

Sebastião G. Branco 

 

produção geral 

Gabi Bresola / Ombu produção 

produção 

Anna Moraes e Leila Pessoa 

 

projeto expográfico 

Gabriel Villas 

 

design gráfico 

Tina Merz 

 

assessoria de comunicação 

Barbara Pettres 

 

educativo 

Rafaela Maria Martins 

 

montagem 

Reno Caramori Filho e Anézio Ramos

marcenaria 

Venilton Pinho 

 

apoio 

flamboiã - feira de publicações de artista 

agradecimentos:  Álvaro Fieri, Anézio Ramos, Clive Mund, Daiana Schvartz,  Eliane Prudencio, Fábio Brüggemann, Fundação Hassis,  Instituto Casa Cleber Teixeira, Instituto de Documentação  em Ciências Humanas/UDESC, Instituto Meyer Filho, Jayro Schmidt,  João Evangelista (em memória), Jorge Bucksdricker, Juliana Crispe,  Juliana Pereira, Kamilla Nunes, Luciene Lehmkuhl, Neide da Gama,  Marcos Walickosky, Onor Filomeno, Rafael Mund, Sandra Meyer, Sandra Favero, Silveira de Souza (em memória), Simone Bobsin, Tércio da Gama, Vinícius Alves, Virgínia Alves e Ylmar Corrêa Neto.

CATÁLOGO

O catálogo da exposição contém imagens e o texto curatorial. Ele foi produzido para compor o projeto expográfico.  Está disponível em duas versões:

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MATERIAL EDUCATIVO

O material educativo foi desenvolvido por Rafaela Maria Martins e foi produzido em versões impressa e digital.

Se você é professor/a e deseja solicitar a versão impressa ou agendar uma visita guiada com arte-educadores do MASC, entre em contato através do e-mail: 

agendamentomasc@gmail.com

Aqui é possível acessar o jornal do educativo em duas versões: 

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UM POUCO MAIS SOBRE
HUGO MUND JÚNIOR

CRONOLOGIA DO ARTISTA

Conheça a cronologia de Hugo Mund Jr.:
 

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AULA

O curador da exposição, Sebastião G. Branco ministrou uma aula sobre Hugo Mund Jr. no Curso de História da Arte  em Santa Catarina coordenado por Daiana Schwartz, do ISFC Oeste, a aula foi transmitida online e gravada.

Assista clicando aqui

PUBLICAÇÕES

Na exposição é possível ver algumas publicações originais e folhear as publicações produzidas em fac-similares ou réplicas. Neste espaço disponibilizaremos uma publicação por semana no formato digital.

Semana 1 / JORNAL OASIS Nº 1

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Semana 2 / LIVRO GRÁFICOS
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Semana 3 / Ô Catarina Nº 3
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Semana 4 / O vigia e a cidade
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Semana 5 / Desenho de observação
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Sem

Semana 6 / JORNAL OASIS Nº 2

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Semana 7 / Palavras que nãosão palavras

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RESULTADO DAS OFICINAS 
Uma das ações de contrapartida do projeto foi a realização de duas oficinas de gravura. Neste link é possível ver o resultado dos trabalhos das pessoas que participaram.

Edições do_livro de arte / resultado das oficinas

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PESQUISA 

A origem desta exposição é uma dissertação de mestrado realizada no Programa de Pós Graduação da Udesc, por Sebastião G. Branco com orientação de Rosângela Miranda Cherem. A dissertação está disponível aqui.

fotos: Lúcio Consul

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