
MAPEAMENTO DOS ACERVOS AUDIOVISUAIS DE SANTA CATARINA
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A mostra.doc, em parceria com a Cinemateca Catarinense/ABD-SC, lança o projeto Mapeamento dos Acervos Audiovisuais de Santa Catarina, uma iniciativa voltada à identificação, registro e visibilidade dos acervos audiovisuais no estado.
O mapeamento busca reconhecer a diversidade de coleções públicas e privadas que contribuem para a preservação da memória audiovisual catarinense. O mapeamento visa identificar as diferentes formas de composições, volumes e o estado em que se encontram os acervos, a fim de estabelecer uma rede de contato para que seja possível fomentar diálogos sobre conservação e estimular políticas de preservação. A iniciativa conta com a participação de pesquisadores, instituições e guardiões de acervos.
Podem participar instituições e pessoas, física ou jurídica, que possuam algum acervo que contemple audiovisual em todos seus formatos, seja em seu conteúdo geral ou coleção.
Os dados coletados até o dia 30 de abril serão processados de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) – Lei nº 13.709/2018 para estudo e apresentação de resultados em outubro de 2025, durante a programação de mesas de debate da 3ª edição da mostra.doc, um evento produzido pela Ombu produção em parceria com a Cinemateca Catarinense/ABD-SC.
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PARTICIPE!
https://forms.gle/2XUpPR49B3MmysNZA
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HISTÓRICO DA MOSTRA PONTO DOC
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O ano era 2011. Naquele ano, iniciaram as movimentações no congresso nacional para a instituição do Dia Nacional do Documentário Brasileiro, com o intuito de reverenciar o gênero produzido no país - que já era referência mundial por conta de sua extrema qualidade, fortalecer o seu papel junto à sociedade e estimular a sua visibilidade. Figuras importantes do cinema brasileiro, como Solange Lima, Orlando Sena, Eduardo Coutinho e Vladimir Carvalho, se reuniram na comissão de educação e cultura com os deputados federais da época, para discutirem a apresentação do projeto de lei da data comemorativa. O Ministério da Cultura e a Associação Brasileira dos Documentaristas e Curta-metragistas, ABD Nacional, já haviam decretado a data de 7 de agosto como homenagem ao nascimento do cineasta baiano Olney São Paulo.
Olney nasceu no ano de 1936, em Riachão do Jacuípe, cidade do sertão da Bahia. Aos 12 anos mudou-se para a cidade de Feira de Santana, também no estado baiano, para estudar. Em Feira, exerceu atividades ligadas à comunicação e às artes e seu primeiro contato com cinema se deu em 1954, quando a equipe de Alex Viany chegou à cidade para filmar o episódio “Ana” do filme “Rosa dos Ventos” - uma produção alemã lançada em 1957, em que Olney atuou como ajudante de set e figurante. Foi ainda em Feira de Santana que, em 1956, com 19 anos, Olney estreou sua carreira como cineasta com o curta-metragem “Um Crime na Rua”, rodado nas ruas da cidade. No final dos anos de 1950, Olney se envolveu diretamente com o Cinema Novo, movimento que balançou as estruturas formais de como fazer e pensar filmes no Brasil, quando a equipe de cinema de “Mandacaru Vermelho”, liderada por Nelson Pereira dos Santos, chegou ao sertão baiano para as filmagens. Em “Mandacaru Vermelho”, Olney atuou como assistente de direção e produção, continuísta e ator. Ele unia-se, aí, ao ao grupo dos pioneiros do movimento Cinema Novo. Em 1964, dirigiu seu primeiro longa-metragem, a ficção “O Grito da Terra”, filme que aborda a realidade do nordeste brasileiro - Olney tem, em sua formação em cinema, forte influência do neorrealismo italiano. Na sequência, realizou os documentários de curta-metragem “O profeta de Feira de Santana”, “Cachoeira: documento da História” e “Como nasce uma cidade” e o média-metragem “Manhã Cinzenta”, um filme de caráter documental e ficcional, lançado em 1969, que foi o grande “filme-sensação” do cinema brasileiro naquele ano. Ficou conhecido como “o cineasta maldito do sertão” entre amigos, críticos de cinema e jornalistas principalmente pelo fato de seus filmes frequentemente abordarem temas arriscados, considerando a formação político-cultural na qual passava o Brasil.
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Olney mudou para o Rio de Janeiro, onde residiu até a sua prematura morte, aos 41 anos, vítima de câncer de pulmão. Ele seguiu realizando curtas, médias e longas-metragens até o fim de sua vida e seu último trabalho, “Ciganos do Nordeste”, foi concluído pelos amigos Orlando Senna e Manfredo Caldas, a partir de suas orientações, e lançado postumamente Morreu muito cedo, aos 41 anos, vítima de câncer de pulmão. Entre suas obras, destacam-se os longas “Sob o ditame do rude Almajesto: sinais de chuva” lançado em 1976 e “Ciganos do Nordeste”, concluído em 1978, após sua morte.
Apesar da enorme contribuição/contribuição fundamental que suas obras suscitaram à cinematografia brasileira do século XX, principalmente a partir de seu direto envolvimento com o Cinema Novo, Olney São Paulo era uma figura bastante desconhecida. Autor de importantes obras como o longa “Sob o ditame do rude Almajesto: sinais de chuva”, lançado em 1976, muita gente não o conhecia e não sabia de sua representatividade para o cinema brasileiro. Recuperar a memória deste cineasta, morto em 1978, e resgatar sua obra eram também objetivos de se instituir um dia que celebrasse o documentário brasileiro.
Já era inverno no Brasil e aquele 7 de agosto foi o primeiro em que o dia nacional do documentário brasileiro seria celebrado. A ABD Nacional convocou suas filiais e propôs um evento comum a todas suas representações pelos estados brasileiros para a data: a exibição do filme “Manhã Cinzenta”, do Olney. Em Santa Catarina, a representante da ABD Nacional é a Cinemateca Catarinense, instituição com mais de 30 anos de atuação, representando politicamente o setor, promovendo atividades formativas, de pesquisa e manutenção da história do cinema produzido no estado. A ABD Nacional pretendia, com o evento, reunir diversos agentes envolvidos na produção e difusão de documentários no país. A Cinemateca Catarinense aproveitou o ensejo para reunir documentaristas catarinenses no Museu da Escola Catarinense, no centro de Florianópolis, para a exibição de seus filmes, seguidos de debates com o público. Como em uma ciranda, as cineastas e os cineastas convidados comentariam as obras de seus colegas. Nascia aí a Mostra.doc, com curadoria e coordenação de Natália Poli e produção de Gabi Bresola, gestoras/membras da direção gestora da Cinemateca Catarinense. Foram três dias de evento, entre os dias 22 e 24 de agosto, com duas sessões de exibição por dia, e contou com uma programação de 16 filmes selecionados, entre curtas, médias e longa-metragens. Relevantes realizadores de de nossa cena à época como Zeca Pires, Kátia Klock, Chico Faganello, César Cavalcanti, foram convidados e os debates, além de estimularem a análise crítica das obras cinematográficas, geraram novas proposições para o setor, firmando-se, assim, como um evento de forte integração e enriquecimento sócio-cultural.
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No ano seguinte, 2012, a mostra.doc já constava no calendário de eventos de exibição do estado e buscava consolidar-se como atividade de proposta reflexiva, única no seu gênero, com o objetivo de difundir a arte cinematográfica como um todo, possibilitando que pessoas a vissem, discutissem e descobrissem que caminhos nela seguir, admitindo, para isso, a inexistência de fronteiras entre documentário e ficção. Aquela edição da Mostra.doc vinha com semana de realização, programação e identidade visual próprias e propunha o questionamento entre a ideia de verdade e realidade no cinema e a honestidade objetiva do documentário. Foi realizada na Fundação Cultural Badesc, também no centro de Florianópolis, entre os dias 3 e 7 de dezembro. A curadoria centrou sua pesquisa nos conceitos de D. Vertov e procurou mostrar, em sua seleção, como o poder quase inexplicável de convencimento do cinema, o poder da imagem falada, possibilita tornar visível o invisível, iluminar a escuridão, desmascarar o que está mascarado, fazer da mentira a verdade – e como somos atraídos a aceitar essa “verdade”. Seis documentários autorais de diretores reconhecidos do cinema mundial foram exibidos, como Eduardo Coutinho, Wim Wenders, Werner Herzog. Um deles, “Anna Pavlova vive em Berlim”, produção alemã de Theo Solnik, lançado no ano anterior, fazia sua estreia no Brasil. O curta documentário catarinense “Cruz e Sousa, a volta de um desterrado”, deu as boas vindas ao público que se dirigia à sala de cinema em uma projeção experimental. A mostra.doc 2012 abarcou tudo o que uma mostra precisa ter: conceito, originalidade, linha curatorial, público-alvo e ineditismo. E foi um sucesso: teve grande reconhecimento midiático, incluindo Santa Catarina no circuito dos eventos do gênero, gerou debates na sociedade cultural e artística local e lotou a sala de cinema da Fundação Badesc nos cinco dias de evento.
Se em sua primeira edição a Mostra.doc foi motivada pela criação do Dia do Documentário promovido pela ABD Nacional, foi em sua segunda edição que ela se firmou como um evento independente e de identidade singular. Essa singularidade ficou marcada pela perspectiva de que todos os filmes selecionados e exibidos em 2012 utilizavam-se de material de arquivo para suas construções, em distintas linguagens e variados subgêneros do documentário. O direcionamento curatorial não se deu ao acaso. Ele foi impulsionado pelo desejo/ideal de encarar o sufixo “ponto doc”, que dá título à mostra, não apenas como abreviação do gênero “documentário” e sim na ampla dimensão que engloba a palavra “documento”.
[Documento compreende qualquer elemento concreto ou simbólico, conservado, ou registrado para fins de representar, reconstituir ou provar um fenômeno físico ou intelectual.]
[Documento compreende memória e preservação.]
E foi essa sementinha plantada há mais de uma década que incubou, também, a 3ª edição da Mostra.doc. Terceira edição? Sim! A Mostra.doc terá sua terceira edição em 2024, viabilizada pela Lei Paulo Gustavo e pelo Prêmio Catarinense de Cinema. E pela primeira vez será realizada fora da capital, em Treze Tílias, importante pólo industrial e cultural do extenso e abundante oeste catarinense, porém carente de iniciativas que a coloquem nos circuitos dos eventos culturais realizados no estado. Existe uma tendência das discussões artísticas e dos recursos públicos de incentivo à cultura ficarem concentrados na capital e essa é uma antiga e polêmica discussão. Foi por fruto de muita luta e reivindicação de diversos agentes do setor que políticas de reserva de recursos para investimentos no interior do estado começaram a ser aplicadas. Gabi Bresola, nascida no oeste de Santa Catarina, é uma dessas figuras, defensora da distribuição dos recursos públicos de forma equânime pelas seis mesorregiões do estado. Ela deixou a região em busca de formação. E voltou Mestre em Artes Visuais. Conhecedora e entusiasta da valorização cultural da região, enxergou em Treze Tílias um enorme potencial para receber a Mostra.doc, devido a seu valor histórico e patrimonial.
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A edição de retomada da Mostra.doc assume explicitamente seu desejo de se tornar um evento de difusão e memória cinematográfica e visual que propõe sua continuidade voltada para a preservação audiovisual. Preservar filmes não significa apenas conservá-los para que gerações futuras possam acessá-los. Preservar filmes tem papel fundamental para a geração de novos filmes, sejam documentários, ficções, séries, pesquisas, roteiros e principalmente filmes que utilizam o arquivo como parte da linguagem cinematográfica, seja ele um filme antigo restaurado, um filme que utiliza fotografias, documentos ou materiais digitalizados ou um filme com arquivos digitais recentes. E é sobre esse contexto de jornada cinematográfica, evidenciando a potência do cinema também como patrimônio, que a Mostra.doc se debruça para a composição de sua terceira edição, contando com a parceria das mais importantes instituições de preservação audiovisual do país, como a Cinemateca Brasileira e a Associação Brasileira de Preservação Audiovisual (ABPA).
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28 de outubro é o dia que se comemora a preservação audiovisual no Brasil. A Mostra.doc acontecerá entre os dias 25 e 28 de outubro de 2024 e estão previstas duas mostras com filmes convidados e filmes inscritos e selecionados - mais de 30 horas de exibição, atividades formativas divididas por mesas e oficinas, além de uma exposição que ficará um mês “em cartaz” e do Prêmio.doc, uma premiação que contemplará um projeto de preservação audiovisual, como a fundação, digitalização, catalogação ou o restauro de um acervo. A programação será inteiramente aberta e gratuita, contemplando todos os tipos de público.
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São pouquíssimos os eventos preocupados em tratar o cinema como patrimônio. São pouquíssimos os eventos de exibição que articulam arquivo, cinema e educação. Quando se fala de Sul do Brasil, então, a presença desse tipo de atividade é praticamente nula. A Mostra.doc tem por finalidade ocupar esse espaço vago. E é justamente o seu caráter único e singular que trará a Treze Tílias, cidade-patrimônio, a alcunha de capital do cinema de arquivo e da preservação audiovisual por quatro dias no mês de outubro.
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