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RELES CHÃO

Primeira exposição individual de Sebastião G. Branco que reuniu sete trabalhos entre gravuras com matriz de pinheiro e eucatex, impressas em tecidos e papéis e circulou em Lages e Florianópolis. Instalações e páginas de livros apropriadas com intervenções que ocupam o espaço no CIC. Grande parte dos suportes, as matrizes, foram coletados no solo de edificações em obras. As colunas de concreto estruturadas pela madeira perpendiculares ao horizonte revelam formas definidas por fios, veios e fendas que as modelam. Entendo que a simplicidade e minúcia de alguns trabalhos apresentados perseguem esses instantes de estar na terra em contato com horizontes sem nunca saber ao certo de onde viemos e para onde vamos, como na provocação de Paul Gaugin.

 

As construções crescem exacerbadamente e aparecem quase que abstraídas em imagem impressa em gravura com tela sobreposta. A Serra Da Boa Vista aparece impressa em tecido de estampa típica do interior ao lado de fundo azul de mar; se olhar bem de perto, se vê a linha de verdade que salta da tela, um detalhe que nos leva a pensar em questões humanas do que é físico e ilusório.

 

Sebastião sempre trabalhou com vivências relacionais, com a sensibilidade, o humano e processos de criação no espaço rural. Nesta proposta, ele mantém esses temas e vai além nas imagens que apresenta. Não só representa a paisagem, como já foi feito por muitos artistas no passado, mas se coloca nela para sintetizar e ampliar algumas ideias e sensações. Ele tem um olhar demorado e recria o que vê possibilitando configurações visuais de experiências, refletir sobre o que é visto e estabelecer novas relações estéticas e poéticas.

 

Texto curatorial

 

TODA LINHA

na crosta do planeta a vista se alinha com a paisagem retilínea que consegue alcançar. o olho grita pra linha que ainda é crua, o olho  estilhaça porque a não se avista a paisagem igual a antes. mesmo com alguma brisa, é a massa preta que preenche as cabeças, e o brilho da luz elétrica entretêm muitos dos olhos. o que é visto de longe é sempre mais fácil de se acreditar.ainda mais quando se vê entre neblina, bruma, brisa e maresia. a insistência em acreditar no que ainda não se sabe ao certo. a tentativa de chegar perto e não conseguir nunca chegar perto. nem a trote, nem com grua se vê o que vem depois do plano deitado que chamamos, miseravelmente, de horizonte. de fronte para o que é grandioso, a retina se duplica quando se olha por muito tempo pro mesmo lugar. a condição de não saber o que fazer recebe o que é visto como ameaça. o delírio dá origem a uma diplopia que cria e tritura uma mesma paisagem, fria ou cálida é sempre atravessada por linhas. em qualquer lugar dessa esfera, não há coordenada geográfica que indique ao certo o que vem depois da linha.  masde frente pra ela está ali o olho (aparato sensorial), a cabeça e o corpo fraco de quem habita o destino de esgotar todas as possibilidades de saber o que se passa pralém da linha.  por isso, o ponto de fuga deve ser a repetição dos discursos que vivem para se refazer, em formato de linha, como uma cobra que come o próprio rabo. 

 

sobra saber: quantos horizontes necessários sãopara descobrir que lá, no fundo, todo mar é terra firme? quantos são para descobrir que lá, no fim, toda linha é utopia?

texto: Gabi Bresola com referência de Diego Dourado 

Exposição individual de Sebastião G. Branco

Espaço oficina - CIC
Florianópolis/SC
abertura: 19/10/2016
visitação: 19/10 - 09/11/2016

Fundação cultural de Lages
Lages/SC
abertura: 10/08/2016
visitação: 10/08 - 31/08/2016

FICHA TÉCNICA
 

Artista: Sebastião. G. Branco
Curadoria: Gabi Bresola
Produção: Ombu produção, Gabi Bresola e Sebastião G. Branco
Fotografia: Jary Jr.

Agradecimentos: Elvira Branco, Flávia Ramos e Gráfica Rocha.


 

Sebastião G.Branco

Artista visual, pesquisador, professor, musicista e produtor. Mestre em Artes Visuais PPGAV-UDESC (2017-19). Licenciado em Artes Visuais (UDESC, 2016), bacharel em naturologia (UNISUL, 2011). Aluno de Gravura na oficina da FCC (desde 2014). Baixista na banda Vivar desde 2017. Dedica-se a pesquisas que envolvem: arte e arquivo, gravura, fotografia, publicação de artista, arte no contexto rural e de interior.

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